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MULHERES NA POLÍTICA

Por  Maria Rita
27 setembro. 2024

    A vida política tem seus primeiros registros na sociedade ocidental a partir do século XVI, com os estudos de Nicolau Maquiavel, que transformaram a maneira do fazer político europeu. Desde então, a história de países colonos e colonizados percorre entre monarquias e oligarquias até finalmente chegarmos aos regimes republicanos e democráticos. Estudamos Hobbes, Locke, Marx, Weber, entre tantas outras figuras de renome que renovaram o pensamento político durante os séculos; mas e as mulheres?

 

    O patriarcado construiu, desde muito cedo, mecanismos sociais que impediam as mulheres de participarem ativamente nas estruturas da sociedade — a não ser no trabalho doméstico e na reprodução. Na Europa, as mulheres medievais tinham a segurança de se manter vivas mesmo sem uma figura masculina (seja pai, marido ou irmãos) presente. Tudo muda quando o feudalismo entra em vigor e as terras comunais passam a ser concentradas nas mãos de nobres e do clero, deixando milhares de camponeses desamparados, que perderam muitos direitos de posse e trabalho. A partir desse período, nota-se uma série de retrocessos em relação aos direitos políticos, econômicos e sociais das mulheres, com desdobramentos díspares e mais degradantes em regiões colonizadas.

 

    Do feudalismo ao capitalismo, mulheres são vistas como propriedades dos homens, produzindo a ideia de que deveriam ser submissas e incapazes de ter opinião própria, além de performar uma série de características e modos de agir para serem bem quistas na sociedade e, quem sabe, casar-se com um homem de família rica. Isso não quer dizer que não lutavam por seus direitos desde sempre.

 

    No Brasil, a Lei que torna mulheres (casadas ou viúvas com renda própria) aptas a exercerem poder de voto surge apenas no ano de 1932, no entanto, em 1928, em Mossoró, no Rio Grande do Sul, a professora Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher no Brasil a votar. O divórcio, por sua vez, só foi favorável às mulheres a partir de 1977. Tais conquistas não foram concebidas por pura empatia de governantes dentre os três poderes, mas sim, de uma luta incansável de mulheres que queriam ser ouvidas.

   

    As regras do sistema, no entanto, estão sempre sendo modificadas para tornar mais difícil a nossa participação em poderes públicos, em que as relações de raça são fortemente marcadas. Mulheres brancas de classe média e alta, não só no Brasil, lutavam por direitos nas ruas enquanto muitas mulheres negras não eram incluídas nos planejamentos; sem falar que comumente viviam em condições precárias e subordinadas. Apesar da difícil realidade das mulheres negras, elas também foram pioneiras políticas no nosso país: em 1934, Antonieta de Barros foi eleita deputada estadual por Santa Catarina. 

 

    É fato que quando escolhemos partidos e candidatos para eleger em eleições, buscamos aquilo que nos aproxima das figuras representativas. Não basta apenas ser mulher para nos convencer de que irá transformar a cidade, estado ou país a nosso favor, as reivindicações precisam estar verdadeiramente alinhadas com o caminho que pretendemos seguir. Como exemplo, durante os anos de 2019 a 2022, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, sob direção de Damares Alves, investiu dinheiro em projetos missionários em terras Yanomamis, enquanto a crise humanitária acontecia e os apelos de lideranças indígenas não eram ouvidos.

 

    Logo, se faz de extrema importância a presença, bem como a representação nos espaços públicos, de mulheres que contemplem as necessidades dos mais diversos grupos minoritários – os quais precisam de assistência redobrada em razão das inúmeras violências sistêmicas a que são submetidos diariamente na sociedade vigente. Somente assim, com esforços coletivos somados à tomada de consciência da população, atingiremos — gradualmente, a cada novo mandato — um nível mais próximo ao ideal democrático.

          

Referências:

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BRASIL DE FATO. Com apoio de Damares, governo Bolsonaro pagou missionários religiosos em terra Yanomami. Brasil de Fato, 30 maio 2023. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/05/30/com-apoio-de-damares-governo-bolsonaro-pagou-missionarios-religiosos-em-terra-yanomami. Acesso em: 13 set. 2024.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

MULHERES negras eleitas. Gênero e Número, 2023. Disponível em: https://www.generonumero.media/artigos/mulheres-negras-eleitas/. Acesso em: 13 set. 2024.

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